Rabbit Hole: um caminho para o auto-conhecimento?

“Situações de fechamento, quando a pessoa esconde de si mesma suas dúvidas e falhas, e ainda, sentimentos que participam desse cenário, na melhor das hipóteses devem apenas se transformar numa adaptação forçada. É melhor ter problemas! Problematizar para não ser problemático – para si mesmo principalmente – e sofrer na solidão e no preconceito. Essa situação solitária internamente, escondido dentro de si mesmo, pode gerar problemas futuros com prejuízos na auto estima e mesmo um quadro depressivo.” Esta definição quanto ao quadro situacional de fechamento dentro de si mesmo está contido no artigo “Medical students and counseling” de Orlando Lúcio Neves DeMarco e serve bem para entender “Rabbit Hole” do diretor John Cameron Mitchell, com a botoxada Nicole Kidman e Aaron Eckhart.

Inspirada na peça homônima de David Lindsay-Abaire o filme acompanha o um casal que tentará superar dificuldades que tiveram origem num acidente envolvendo o filho deles. Mesmo com os músculos faciais rijos, Nicole Kidman está razoavelmente bem no papel da mãe, porém somente Lars Von Trier conseguiu extrair dela uma ótima atuação em Dogville. Além dessas limitações, o texto é bom e o clima construído pelo diretor conduz o espectador a uma viagem que os protagonistas fazem em busca do auto-conhecimento, isto é, a carga com a qual eles tem de viver agora não é mais de convenções, está recheado de enganos, frustrações e silêncio.

“Não se deixe enganar em sua solidão só porque há algo no senhor que deseja sair dela”, de acordo com DeMarco este é o instrumento para entender sua solidão num território mais vasto. Mesmo a busca por ajuda psicológica não supre as necessidade das personagens e, muito mais profunda é a libertação de uma culpa proposta por eles mesmos a eles mesmos. Da mesma forma que “buraco do coelho”, no clássico Alice no País das Maravilhas, representa uma viagem de conhecimento, Rabbit Hole dá a oportunidade de reagir à realidade de forma não representativa, fugindo das possibilidades de alternativas, isto é, eu posso fingir que nada aconteceu ou acreditar que o que aconteceu não se resolverá facilmente e terei que conviver com ela eternamente. O roteiro propõe caminhos, mas se auto-sabota, afinal isso se faz inicialmente problematizando, pensando acerca do que ainda não foi pensado a respeito de si mesmo.

Eu não me conheço. Não sei lidar com perdas, frustrações, tristeza. Além destas coisas, busco apenas exorcizar meus demônios por meio de um exercício prático: assistir a uma hora e meia de filme e, na catarse, resgato a esperança e vivo esperando. Esperando o quê? Bem, isso é uma outra história, um outro filme, um outro livro…

Rabbit Hole (2010)
Direção: John Cameron Mitchell /Roteiro: David Lindsay-Abaire / Elenco: Nicole Kidman, Aaron Eckhart, Dianne Wiest, Miles Teller e Sandra Oh