Situação da filosofia à cultura contemporânea

O que é filosofia?
Filosofia é a tentativa de investigar as causas primeiras, problematizando a realidade e fundamentando expectativas, para que seja provável responder ao meu espírito os porquês, ou avaliar, questionar e interpretar o que me cerca (realidade). Ao ser humano é dada a capacidade de pensar, de pensar o pensar e de agir constantemente sobre a natureza, e a natureza das coisas. Esse movimento, juntamente com a variedade dimensional em que uma questão é gerada, causa inicialmente um desequilíbrio, mas prossegue e, assim, na tentativa de esgotar um sentido arranca da infinidade interpretativa um universo de especulações filosóficas.

Que não se engane os iniciantes, a filosofia não se resume ao dar opinião sobre um tema, antes parte da premissa que tende a ser fundamentada, objetivada e, de algum modo, universalizada. Se por um lado, a opinião é subjetiva e não pode ser demonstrada longe do campo experencial. De outro, um dado tema, sob a ótica filosófica precisa ser conceituada para assumir uma base, e depois de organizada coerentemente constrói-se uma tese, em conseqüência um antítese e, conclusivamente ou não, uma síntese.

Portanto, a filosofia é utilizada tanto pelo lado epistemológico, o conhecer, quanto por seu ferramental sobre as decisões práticas. O pensamento filosófico não tem a pretensão de dar respostas, ao contrário da religião, problematiza uma realidade na intenção de evoluir a compreensão desta. E, finalizando, na origem da filosofia está a busca pela continuidade significativa, a essência e a substância.

Como é a situação da filosofia à cultura contemporânea?
Existe espaço para a filosofia numa cultura contemporânea em que grande parte da vida gira em torno de mecanismos tecnológicos. Isto porque, há dentro do homem a busca por resposta em relação a sua existência, ao seu significado e, portanto da vida. Porém, para além de uma filosofia existencialista está a filosofia neste ambiente contemporâneo realçando a necessidade de se pensar a finitude do real e seu significado. Há aqui um entendimento de quanto mais o homem se aproxima da automação, uma necessidade em cuidar do mundo do espírito se contrapõe ao esforço por dominar a tecnologia.

A filosofia neste cenário contemporâneo opera na crítica da confiança cega no processo científico, enquanto simultaneamente age sobre a consciência do homem e sua necessidade em construir um caminho para significar seu ser. Numa cultura que não vê possibilidades de o passado responder às necessidades e o novo ainda não se concretizou, a filosofia permite ao homem construir uma compreensão da representatividade das coisas.

Travar um embate entre o sistema da tecnociência e o sistema teórico da mordenidade, pelo viés filosófico, abre espaço para questões sobre causalidade, organização, experiência, descoberta, transcendência, entre outros temas caros ao homem moderno ou contemporâneo diante dos avanços tecnológicos.

Terry Eagleton (filósofo, crítico literário) opõe ao modelo dominante de conhecimento em nossa cultura – modelo baseado no conhecimento de “coisas” – um conhecimento de pessoas. Quais as implicações destas duas formas de conhecimento? Faça um comentário pessoal sobre o assunto.
A tensão proposta por Eagleton (o conhecimento de coisas e de pessoas) leva em conta as imagens contraditórias destas duas dimensões e, um rápido olhar sobre elas nos faz ver que os conhecimentos acumulados, por meio da tecnologia, não nos fizeram uma sociedade liberta, no sentido de livre-ser. Antes, o rigor científico trazido por este conhecimento coisificado flerta com as nuances perigosas de uma pesquisa nuclear, para reduzir num exemplo o campo de observações dos fenômenos tecnológicos que beira à catástrofe.

Diante disto, Eagleton indica o caminho do pensar a existência de Deus (e aqui não há qualquer tendência para religiosidade e sim, Deus como conceito filosófico) para se aproximar de uma crítica à ciência cega, e, portanto, religiosa. Explico: a fé em elementos hipotéticos leva o cientista, no caso Dawkins, a exercitá-la pelo viés racionalista, portanto, fé na razão.

A complexidade dos dois extremos enriquece ou empobrece nosso cotidiano, isto é, contribuem positiva ou negativamente dependendo do ângulo. Essa perplexidade individual diante do imponderável é o que pode nos mover em busca de respostas. Mas e quais são as perguntas?

Se toda a teorização se baseia, ainda que de forma remota, nas nossas formas pragmáticas da vida, como postula Eagleton, então a ação-reflexão-ação se torna um possível caminho para oferecer uma crítica efetiva do estilo de vida. A crítica, portanto, nos dá sustância para, distanciados da situação-problema, seja ela qual for, superar questões ou paradigmas e revalorizar o conhecimento a cerca de algo.

Tendemos a apoiar nossas considerações ou num extremo ou noutro. As profundas alterações epistemológicas e culturais numa sociedade, chamada de pós-moderna pelos acadêmicos, resultam num pensar e agir sobre as dimensões e desdobramentos destes palcos, resgatando o direito de personalidade (conhecimento de pessoas) sobre a coisificação do humano.

Referencias
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 308-345: Cultura brasileira e culturas brasileiras.
EAGLETON, Terry. O debate sobre Deus.p. 103-128:Fé e razão.
ROSSI, Roberto, Introdução à filosofia: história e sistemas, Tradução: Aldo Vannuchi, São Paulo, Loyola, 1996.